No mercado há 25 anos, gere empresas bem conhecidas no sector e tem ligações com as mais varia das áreas de negócio. Como é que tudo começou?
O sector da Climatização foi um sector que sempre me despertou muito interesse.
Depois de concluir engenharia de máquinas, em 1980, fui estagiar para uma empresa do sector – a TERMOCICLO. Era uma empresa com pessoal muito selecionado e competente. Vivia-se uma época diferente, onde poucas empresas operavam no mercado, atuando de um modo mais abrangente. O mercado de apoio era muito reduzi do e as empresas tinham de fazer quase tudo, passando muitas vezes pelo fabrico do equipamento que instalavam.
Foi uma escola importante.
Ao fim de três meses passei de estagiário a efetivo, dirigindo empreitadas como a Carris de Miraflores, a Central Termoelétrica de Sines, o Hotel Sheraton do Porto, o primeiro hipermercado Continente, em Matosinhos, para além de inúmeras outras empreitadas.
Na época as competências tinham de ser amplas, repartindo a atividade por áreas tão diversas e complementares, desde a conceção ou revisão do projeto, à preparação e controlo da empreitada, passando muitas vezes pelo fabrico de equipamentos necessários.
O que o motivou para iniciar uma nova etapa?
Em 1985 era visível a divergência tecnológica de gerações diferentes – complicava-se o que era simples.
Mantinham-se processos e procedimentos ultrapassados, lutava-se diariamente para contornar a falta de recursos, nomeadamente a falta de tecnologia ao serviço da empresa.
A impossibilidade de evoluir, levou-me a sair da empresa e a fundar uma nova empresa onde pudesse desenvolver os conceitos que há muito entendia fundamentais para um mercado em evolução, em rápida expansão, onde assuntos como a organização (com apoio tecnológico), a qualidade e a rentabilidade eram pontos-chave.
Surgiu assim, em 1985, a TECNICLIMA (www.tecniclima.pt).
Qual era o objetivo dessa nova empresa, em 1985?
A tendência na época (1985) era a fragmentação das diferentes atividades do sector. Era um mercado fragmentado.
É esta, ainda hoje, a realidade empresarial na área da climatização, certamente por ser mais fácil gerir uma pequena área de atuação, evitando-se estruturas mais complexas. Em Portugal, o mercado está dividido em demasiadas áreas de atividade: há empresas de projeto que só projetam, há empresas instaladoras que só instalam, há empresas de subempreitadas que fornecem mão-de-obra ou serviços aos instaladores, há empresas de manutenção, etc.
Os serviços estão demasiado dispersos, facilitando a ocorrência de erros, dificultando a compatibilização e a atribuição de responsabilidades quando algo corre mal. Por outro lado, este cenário facilita o apareci mento e desenvolvimento de pequenas empresas sem a capacidade técnica e financeira necessária, com poucas aptidões e recursos, dificultando muitas vezes a prestação, no seu todo, de um serviço adequado ao Cliente. Injustamente concorrem com aquelas que, pela sua experiência e organização, estão em condições de assegurar, com responsabilidade, um bom resultado final.
Não era esta a minha visão do negócio. Como nos países mais desenvolvidos, entendia que a solução de “Contractor” era a que melhor responderia ao mercado. Desde sempre defendi que uma empresa deveria oferecer ao Cliente um serviço completo.
A TECNICLIMA sempre foi um fornecedor de serviços, e o âmbito da oferta destes refere-se diretamente às suas competências. Sempre acreditei que são os clientes os principais reguladores do funcionamento do mercado. E tinha que se refletir sobre questões fundamentais para um bom desempenho global: qualidade e capacidade técnica, cumprimento dos prazos, garantia dos equipamentos e das instalações, manutenção e fiscalização.
Ao apostar na capacidade técnica, pode-se assegurar um projeto completo (Conceção e Implementação) com a responsabilização de uma única entidade. Quem conseguir assegurar estes serviços conseguirá, simultaneamente, um melhor desempenho na obra. E sempre acreditei que era este o caminho.
Como desenvolveu este conceito?
Em 1985 iniciei a atividade na área do Projeto, mas rapidamente alarguei a atividade a áreas complementares como a da Instalação, da Manutenção e Assistência Técnica, da Distribuição, até à área da Comunicação.
Acabei por criar uma empresa para a área da distribuição, e uma revista especializada que tratasse os assuntos do sector numa perspetiva diferente da já existente. Mais tarde, criei um portal de interne! para o sector da Climatização.
De modo gradual e consistente abrangia as diversas áreas de negócio do sector, e estou hoje consciente de ter atingido os objetivos que me motivaram há 20 anos.
Quer referir algum trabalho de referência?
Em 1988, a TECNICLIMA desafiando um concurso internacional, ganhou o concurso para a recuperação e remo delação do antigo paquete Infante D. Henrique, que hoje navega em águas americanas com o nome de Vasco da Gama.
Com apenas três anos de atividade, foi pela sua dimensão, complexidade e prazo de execução uma obra de referência.
Este trabalho foi contratado na modalidade de conceção/construção, dando início a uma das mais fortes áreas da TECNICLIMA dos últimos 20 anos pensar, projetar, instalar, manter e fornecer assistência às instalações. E garantir ao Cliente a qualidade do seu investimento.
Estamos em 2006. Que novas oportunidades de negócio? Há novos projetos que tem andado a desenvolver?
Sim há novas oportunidades de negócio e boas oportunidades para completar a nossa atividade, tornando a nossa oferta ainda mais completa.
Recentemente a CLIMAPORTUGAL (www.climaportugal.pt) apresentou na Horexpo uma gama de novos produtos e serviços, onde destaco a nova gama de equipamentos de filtragem eletrostática e um completo serviço de higiene ambiental.
Na área da Higiene Ambiental oferecemos, através da TECNICLIMA, um serviço muito completo, desde a área da inspeção, à limpeza por escovagem e por criogenia de condutas e equipamentos, à análise da Qualidade do Ar Interior dos edifícios, até à análise microbiológica de superfícies e ambiente (em colaboração com o Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Farmácia de Lisboa).
Acho importante oferecer estes serviços integrados num profundo conhecimento dos sistemas que estamos a inspecionar.
Aqui, tal como anteriormente, defendo que quem inspeciona e limpa tem de conhecer bem o que está a inspecionar e a limpar, e como as coisas funcionam no seu todo – é um todo difícil de separar.
Tem intervido diretamente na área da comunicação. Porquê, se é uma área tão distinta?
Um mercado informado é funda mental. Sempre valorizámos a necessidade de transmitir de forma simples e clara, ao consumidor, o maior número de informação possível.
Hoje desenvolvemos e atualizamos diariamente 2 sites e l portal na internet – nos serviços o www.tecni clima.pt, na distribuição o www.climaportugal.pt e na comunicação o portal www.climanet.pt, indiscutivelmente úteis ao sector.
Assim de um modo fácil e atualizado o consumidor pode obter a qualquer hora a informação que lhe possa interessar, podendo facilmente fazer downloads de inúmera informação técnica e útil.
Transmitimos ao mercado a informação. Trabalhamos diariamente para manter o mercado bem informado. São os clientes a regular o funcionamento do mercado, repito. A informação deve ser transmitida de forma clara e precisa.
O país está em crise? Comenta?
Naturalmente não haverá atividade nenhuma que não sinta a crise. É visível. As recentes notícias sobre a evolução da economia e competitividade de Portugal são preocupantes. Devem ser encaradas como um alerta sério.
Estamos motivados e estruturados para superar este período menos favorável e procurar consolidar a nossa posição junto dos nossos Clientes.
São notícias diárias a diminuição do consumo, o excessivo endivida mento das famílias e das empresas portuguesas, e as dificuldades de muitas empresas nos mais diferentes sectores da economia nacional.
Penso que o êxito de uma empresa neste período passa pela racionalização dos seus custos e pela manutenção da qualidade do seu serviço. E na capacidade de oferecer um serviço diferenciado pela sua competência.
Como vê o futuro? Que mensagem gostaria de transmitir?
O nosso sector está intimamente ligado ao sector da construção e obras públicas. É um sector em recessão, como é do conhecimento público. A falta de investimento público e o reduzido investimento privado geram alguma apreensão.
A falta de produtividade da mão-de-obra, na generalidade dos sectores, é evidente.
Há muito que caminhar para atingir os padrões de qualidade e competitividade dos parceiros europeus. Devemos trabalhar afincadamente para aumentar a produtividade, aumentando a responsabilização de todos, para que possamos competir num mercado aberto.
Haverá casos mais fáceis, outros mais difíceis, mas a mensagem é comum: MELHORAR.
Mário Fernandes de Carvalho (eng.º)
Sócio-gerente da TECNICLIMA
Sócio-gerente do CLIMAPORTUGAL
Fundador do portal CLIMANET
Entrevista à revista “O Instalador” Abril 2006